27, maio, 2014

Lúcio Figueiredo: um chef apaixonado e um perito dos frutos do mar

Espírito inovador, paixão pela cozinha e boa energia traduzem o chef e o homem Lúcio Figueiredo

O Chef Lúcio Figueiredo e o seu fiel escudeiro, Scott, mascote do Vojnilô Praia (Foto: Carlos Eduardo)
O Chef Lúcio Figueiredo e o seu fiel escudeiro, Scott, mascote do Vojnilô Praia (Foto: Carlos Eduardo)

O bom humor e energia, além da audacidade de criar e inovar no universo gastronômico, são algumas das formas de descrever o chef Lúcio Figueiredo. Criador da tradicional casa fortalezense especializada em frutos do mar, o Vojnilô, atrás da roupa de chef está uma figura bem simples e descontraída. Nas palavras do próprio, Lúcio se enxerga como um alguém que “gosta de viver bem”.

Para além da sua paixão pelos pequenos prazeres da vida, como a alimentação saudável, a taça de vinho diária ou a prática constante de esportes, Figueiredo vê em seu legado construído na gastronomia um sonho de vida consolidado. Com a simpatia que lhe é habitual, se define citando trechos de Belchior: “sou apenas um rapaz latino americano (…) sem parentes importantes e vindo do interior”, ou até mesmo se achando “um doido”, sempre entre risos e dedos de prosa sobre as muitas crônicas de sua vida.

Fale um pouco de sua vida pessoal e de seu estilo de vida

Sou mineiro, vivido em São Paulo. Tenho 48 anos… Mas quando eu tinha 25 anos, não tinha a mesma energia (risos). Dizem que a vida começa aos 40 anos, não é? Bebo vinho todo dia, como peixe todo dia… Uma vida muito saudável. Só não é muito saudável o stress da profissão. É a segunda profissão mais estressante do mundo; a primeira é o mercado financeiro, e depois a cozinha… Essa área de administração de cozinha é uma área muito complicada.

Quais são as principais dificuldades e fatos estressantes no cotidiano do comando de uma cozinha?

Você tem que repetir todos os processos sempre. Não é um trabalho que você faz e simplesmente para; é o tempo todo, olhando isso, olhando aquilo, ficando atento no peixe, nos processos… É um negócio complicado. Mas quando você gosta daquilo que você faz, o negócio flui.

Quando foi que você começou no mundo da gastronomia?

Com sete anos de idade. A minha vó era mineira também, e eu passava muito tempo com minha avó. Minha mãe tinha uma loja, meu pai trabalhava no banco, e eu ficava na casa da minha avó, porque lá era uma casa enorme, cheia de bichos, animais… E aí eu almoçava lá para ir à escola, e minha avó era uma quituteira, uma mineira de mão cheia. Fui aprendendo a fazer as coisas que via ela fazer na cozinha e fui sempre me interessando por gastronomia. Depois acabei indo fazer economia, e trabalhei dez anos no mercado financeiro, mas durante esses anos eu pratiquei a gastronomia.

E quando foi que você abriu o primeiro negócio?

Aos dezoito anos eu já tinha o meu próprio negócio… Sempre fui um cara empreendedor.

Mas era relacionado à gastronomia?

Não. Eu tive o primeiro negócio com gastronomia aos trinta anos de idade, quando tive um bar em Belo Horizonte. Trabalhei no Banco do Estado de Minas e fui transferido de São Paulo para Belo Horizonte, então acabei montando um bar em BH. Belo Horizonte está no Guiness Book, é o lugar onde há mais bares per capita do mundo.

E a especialidade na cozinha e preparo dos frutos do mar, como começou?

Isso foi uma influência do Vicente Bojovski. Foi ele quem me inspirou a trabalhar com frutos do mar. O Vicente tem um restaurante, o Guaramare, o melhor restaurante de pescados do Brasil eleito pelo Guia Quatro Rodas. Ter conhecido o Vicente foi uma influência muito grande.

Pode-se dizer que Vicente Bojovski foi um limiar do seu modo de encarar a gastronomia; do que era antes e o que veio a ser depois?

Foi um limiar. Tanto que eu o homenageei: o Vojnilô é o nome dele em grego. Isso nada mais é que o reconhecimento de uma mudança de paradigmas. Eu vivia dentro do mercado financeiro, meu pai era economista e foi diretor de banco, e quando eu conheci o Vicente, ele abriu um novo horizonte para mim. Eu já gostava disso, cozinhava bem e tinha a mão para a cozinha.

Lúcio Figueiredo (Foto: Carlos Eduardo)
Lúcio Figueiredo (Foto: Carlos Eduardo)

E como ocorreu a sua migração em definitivo para o Ceará?

Eu queria montar um  negócio de frutos do mar e os custos de São Paulo eram muito altos. Fui procurar um lugar no litoral que tivesse um custo menor. Em São Paulo é muito complicado trabalhar com frutos do mar. Eu vim para cá já decidido. Fiz uma pesquisa durante doze anos de qual cidade eu iria montar um restaurante. Fui adquirindo muita experiência durante esses anos todos.

Como se deu essa aquisição de experiência durante este período?

Através da ambição de ver, de montar, de conhecer outras casas, de viajar para o exterior, de aprender coisas novas e diferentes… Tanto que eu não sou formado em gastronomia, mas eu sou um autodidata e tenho bastante coerência. Na gastronomia, você precisa ter coerência. Às vezes, muita gente estuda e pesquisa, mas a pessoa não tem muita coerência… A gastronomia é uma coisa muito delicada, e tem uma frase que diz que “mais é menos”. Quanto menos você agredir o alimento, quanto menos você alterar o sabor daquele produto, é mais. É uma coisa de uma essência e sensibilidade muito grandes.

Pode-se dizer que você leva isso como um lema na hora de cozinhar e criar?

Com certeza. A minha cozinha é marcada pela leveza e sensibilidade. A gastronomia não precisa ser uma coisa para você comer, engordar e adoecer… Isso não é uma coisa óbvia. Você pode se alimentar bem, comer bem, comendo coisas boas e saudáveis. A gente tem essa filosofia. Valorizo também bastante a gastronomia mediterrânea.

A gastronomia mediterrânea é uma fonte de inspiração para você?

Sim. Ela foi estudada há cinquenta anos atrás por um médico americano, e ele descobriu os benefícios da gastronomia mediterrânea. Os seus colegas americanos estavam morrendo, e os colegas italianos, europeus, sicilianos daquela região mediterrânea estavam fortes, bonitos, viris, e os americanos gordos, barrigudos, com doenças cardíacas (risos). O azeite, as verduras, o tomate, tudo ia de encontro à boa saúde. Coisas saborosas e que têm teor nutritivo.

Qual o lugar que a gastronomia ocupa para você e o que significa em sua vida?

Ela proporciona lazer, entretenimento… Hoje as pessoas viajam para comer. Ela está no âmbito turístico e cultural. Toda civilização tem uma riqueza gastronômica. Cada região tem sua peculiaridade. A gente tem uma filosofia aqui que é trabalhar com o que é da terra, utilizando as nossas técnicas aprendidas.

Vojnilô
Rua Frederico Borges, 409 – Varjota
Dias e horários de funcionamento: segunda, a partir das 19h; de terça a sexta das 12h às 15h (almoço executivo) e das 19h à meia-noite; sábados, das 12h às 16h (almoço) e das 19h até o último cliente; domingos, apenas para o almoço a partir das 12h.
Telefone: (85) 3267.3081

Vojnilô Praia
Av.Zezé Diogo, 2771, Barraca D – Praia do Futuro
Horário de funcionamento: de segunda à quarta (Fechado), quinta de 17:00h às 00:00h, de sexta à domingo de 11:00h às 20:00h
Telefone: (85) 3234.6094