4, janeiro, 2013

O que comer no Mercado São Sebastião

 

Os boxes de frutas e outras mercadorias se misturam aos boxes servindo a culinária local. Bem cedo pela manhã, o barulho das panelas já se ouve, pois deixar tudo no ponto para começar o dia no Mercado São Sebastião é essencial. Nos sábados e domingos é certo a clientela chegar às 5h atrás de um bom prato de panelada, buchada, carneiro ou sarrabulho, muito bem servido e com acompanhamentos a escolha do cliente.  No final de semana o local enche logo cedo com aqueles que voltam da farra e pelos dispostos que levantam da cama com o clarear do dia. A movimentação segue intensa até às 17h.
 
Há 15 anos, o Mercado existe na atual estrutura, localizado no centro de Fortaleza, sua história começa em 1937, abriga 29 boxes e 98 pessoas que lidam com a culinária. No entanto, somente agora o potencial do lugar para render bons negócios gastronômicos foi enxergado.
 
O projeto do Polo Gastronômico do Mercado São Sebastião foi iniciado pela Secretaria do Meio Ambiente da Prefeitura de Fortaleza em 2012 com o objetivo de fazer a gastronomia do local crescer de uma forma que seja referência da comida regional cearense, assim como acontece com o Mercado Ver o Peso em Belém (PA). 
 
O ponta pé inicial foi realizado com uma série de cursos de capacitação. Um grupo de três especialistas em gastronomia, as culinaristas Mattu Macedo e Maria de Jesus e o chef Luciano Dias, fora contratados para ministrar as aulas que englobavam limpeza, administração e gastronomia durante dois meses. Um material de identidade visual foi pensado também, a logo do projeto está espalhada tanto nas placas como nas camisas e aventais confeccionados especialmente para o Polo.  “Além da capacitação, nosso intuito principal é conscientizar esse pessoal que existe um potencial imenso de crescimento aqui. É uma questão de eles se unirem para buscar isso, como criar uma associação”, revela Pedro Rui, consultor gastronômico responsável pelo projeto.
 
Enéas Souza, 27 anos, é um filho do Mercado São Sebastião, o cozinheiro mais novo do local começou aos 18 anos trabalhando ao lado da mãe Dona Hosana, proprietário dos boxes vizinhos. Este foi seu primeiro e único emprego e há 2 anos, quando casou Ana Luiza Costa, 26 anos, e resolveu montar o próprio box, fazendo seu negócio, a Panelada Vip. “Deixei meu emprego no shopping para ajudar ele aqui, mas fico mais apoiando e servindo, quem cozinha mesmo é ele, nem me meto”, diz Ana.  O casal tem muita vontade de aumentar o negócio, mas considera que o espaço do local para gastronomia, reduzido aos corredores laterais de mercado, não permite esse crescimento.
 
Vizinho de Enéas, Francisco Antônio Serafim, o Nem, o Rei da Língua, tem uma das visões mais empreendedoras do espaço. Também começou com a mãe, mas assumiu o negócio há 21 anos, quando perdeu o emprego por causa do Plano Collor. Hoje, ele já aumentou o espaço adquirindo um outro box ao lado. Provar a língua que o fez famoso é obrigatório, ele jura que o Embaixador da Suécia em visita ao local adorou o prato. 
 
Nem tem uma vontade incrível de aprender mais, apesar dos 41 anos de idade, já fez cursos no Senac e pretende dar continuidade a esse aprendizado. Em 2012, começou a atender encomendas para o Natal, enxergando um novo público. Ele é uma das pessoas que mais compreenderam o projeto Polo Gastronômico e já vê uma pequena mudança: “Adorei os cursos, já coloquei no meu cardápio algumas receitas do Luciano Dias como o arroz de carneiro. Outra coisa importante foi a presença da mídia, tivemos mais visibilidade, com isso aumentei meu número de encomendas, sem contar as pessoas que vem aqui provar minha comida porque me viram na TV ou no jornal”, conta. 
 
Mais espaço
Assim como o casal Enéas e Ana Luiza, Nem sente a necessidade de um espaço maior para expandir o negócio.  O conversador comerciante tem um facilidade também de adaptar a comida de acordo com o cliente deseja, assim conquistou uma clientela fiel, que ele quer ver crescer mais.
 
Angelita Rodrigues, mais conhecida como Ângela, tem um jeito tímido, mas empreendedor, há 24 anos no mercado é uma das poucas que possui três boxes. Assim como os outros sonha com o dia em que terá mais espaço para melhor servir aos clientes. Sua história no mercado começou com 18 anos quando praticamente caiu de paraquedas no local, vinda do interior. Aprendeu a cozinhar, e muito bem, com a Dona Regina, sua primeira e única chefe, que hoje não trabalha mais no local. São 12 horas trabalhando direto, das 5h às 17h, servindo aos clientes por quem é muito querida.
 
Apesar de acreditar que a inovação ajuda muito na conquista de novos clientes, prefere não alterar seus pratos. “As pessoas gostam de comer do jeito que sempre foi”, acredita Ângela. Assim é com Airton Pereira, 45 anos, cliente quase diário da cozinheira. “Gosto daqui por causa da limpeza, não tem uma mosca aqui, e conversar também com o pessoal, são todos muitos simpáticos”, fala o cliente.
 
O projeto
Um dos objetivos do Projeto Gastronômico é trazer para o Mercado São Sebastião o turista e o público cearense, ainda pouco presente no local. Segundo o consultor Pedro Rui, fica inviável chegar com um ônibus de 40 turistas no mercado justamente por causa da falta de infraestrutura. Já o aposentado Antônio Libório prefere como está. Ele trouxe os amigos de outros estados para conhecer o Mercado e acredita que a tranquilidade do espaço na semana é o melhor horário para comer uma comida regional típica.
 
A grande questão que pesa neste momento de transição da Prefeitura é se o projeto continua ou não. De acordo com Pedro Rui, o grupo responsável está disposto a continuar e negociar essa possibilidade com a próxima gestão. Bons cozinheiros, como de qualidade, a regionalidade, quase todos os quesitos, o Mercado São Sebastião possui, ele precisa apenas de um bom incentivo e continuidade.
 
Confira o vídeo com entrevistas:
 
 
 
 
Veja a galeria de fotos:
 
 
 
Serviço
Mercado São Sebastião
Horário: 5h às 17h, todos os dias exceto nos domingos e feriados que fecha as 12h
Endereço: Rua General Clarindo de Queiroz, 1745 – Centro
Contato: (85) 3468.1600
 
Panelada Vip
Panelada R$ 7,00
Buchada R$ 8,00
Carneiro R$ 8,00
Todos os pratos são servidos com arroz, cuscuz, cheiro verde e salada.
 
Nem, o Rei da Língua
Língua de boi R$ 7,00
Buchada R$ 8,00
Nem tem uma boa diversidade de acompanhamentos, fica a cargo da escolha do cliente.
 
Restaurante da Ângela
Panelada R$ 7,00
Buchada R$ 8,00
Assado de Panela R$ 7,00
Os pratos podem ser servidos com baião, arroz, feijão e farofa.