13, outubro, 2015

Lagosta americana “a preço de banana”

Lagosta
Com a alta na oferta, lagosta americana está sendo usada até em sanduíches da rede McDonalds (Divulgação)

A lagosta hoje é uma iguaria alçada ao mais alto prestígio no universo da gastronomia. O que muita gente não sabe é que nem sempre foi assim.  Até a década de 1950, este marisco era bastante desvalorizado no Brasil. Desta década em diante, o valor do quilo da lagosta passou a crescer drasticamente com o aumento das exportações para os Estados Unidos, que perceberam a fartura de sua oferta nos mares brasileiros. Nos EUA, então, passava a ser vendida a preços muito superiores. Lá, a lagosta também era um crustáceo bastante desvalorizado, ao ponto de ser servido como alimento aos presidiários norte-americanos, pelo menos até a década de 1920. Daí em diante, virou atrativo para a alta gastronomia, e seu comércio se intensificou no mundo inteiro. Hoje, Estados Unidos e Brasil exportam lagosta para todo o planeta, e competem com outros países, como a Austrália.

A alta exportação fez com que o preço da lagosta subisse. Anualmente, cerca de apenas 10% da lagosta brasileira é vendida no próprio país. O restante é exportado.

Lagosta americana “a preço de banana”

Embora no Brasil a lagosta seja comercializada a valores altíssimos, nos Estados Unidos, este cenário vem mudando drasticamente. Cerca de 85% da lagosta capturada no país vem de Maine, estado na divisa com o Canadá. Por lá, a produção passa por uma alta impressionante: segundo dados da BBC, ano passado foram capturadas 56 toneladas de lagosta, seis vezes mais que em 1986. Com esta alta na oferta, os preços caíram para algo entre US$3 e US$4 por libra (450 gramas) nos últimos dois anos. Esta queda de preços está popularizando no país o consumo de lagosta, que vem sendo usada atualmente até em sanduíches da rede McDonalds.

Vale destacar que a região do Maine pratica uma das pescas de lagosta mais sustentáveis do mundo: os pescadores da região capturam as lagostas com pequenas armadilhas distribuídas em mar aberto, como o nosso “manzuá”. Não há cultivos comerciais do animal, nem “granjas marinhas”, como no caso da produção de camarão ou salmão. Também não é praticada a pesca por grandes navios ou lanchas, como a predatória e irresponsável “pesca de arrastão” ou “pesca por arrasto”, que tanto prejudicou a vida dos pescadores de praias cearenses, como as de Icapuí, por exemplo.

Icapuí busca certificação ambiental
Icapuí busca certificação ambiental e conscientização para a necessidade de se praticar uma pesca sustentável da lagosta (Foto: Governo do Estado do Ceará)

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Em nosso país, a situação é um pouco diferente. O Ceará é o maior produtor de lagosta do Brasil, mas os preços deste marisco ainda variam em escalas altas demais para o bolso do brasileiro médio. Em visita ao Mercado dos Peixes, em Fortaleza, o quilo da cauda de lagosta variava a valores que iam de R$60 a R$130. Entre R$95 e R$130, encontramos os maiores filés de lagosta, com pesos a partir de 200g por cauda.

Já por R$60, encontramos o chamado “lagostim”, caudas menores do marisco. Infelizmente, alguns destes exemplares eram vendidos abaixo das especificações do Ibama: 11 cm de cauda para a espécie cabo verde e 13 cm de cauda para a espécie vermelha. A pesca ilegal segue sendo um problema para a sustentabilidade do consumo de lagosta no Ceará. Esperemos que, com a alta da concorrência estrangeira, haja maior pressão para pescadores e governo, no sentido de que se conscientizem da importância de se manter e exercer uma pesca sustentável da lagosta brasileira.

Com informações da BBC e do Uol Comidas & Bebidas