23, junho, 2015

Gastronomia é cultura: os festejos de São João

São João: época boa para se deliciar“A fogueira tá queimando
Em homenagem a São João
O forró já começou
Vamos gente, rapapé neste salão”

São João Na Roça
Luiz Gonzaga

Gastronomia é cultura

No post desta semana, achei oportuno falarmos sobre os festejos juninos, que hoje em dia já se tornaram tão importantes e famosos quanto o carnaval.

As comemorações de São João (24 de junho) fazem parte de um ciclo festivo que passou a ser conhecido como festas juninas e homenageia, além desse, outros santos reverenciados em junho:

Santo Antônio (dia 13) e São Pedro e São Paulo (dia 29).

Se pesquisarmos a origem dessas festividades, perceberemos que elas remontam a um tempo muito antigo, anterior ao surgimento da era cristã. De acordo com o livro O ramo de ouro, de Sir James George Frazer, o mês de junho, tempo do solstício de verão (no dia 21 ou 22 de junho o Sol, ao meio-dia, atinge seu ponto mais alto no céu; esse é o dia mais longo e a noite mais curta do ano) no hemisfério norte, era a época do ano em que diversos povos — celtas, bretões, bascos, sardenhos, egípcios, persas, sírios, sumérios — faziam rituais de invocação de fertilidade para estimular o crescimento da vegetação, promover a fartura nas colheitas e trazer chuvas.

Na verdade, os rituais de fertilidade associados ao cultivo das plantas, incluindo todo o ciclo agrícola — a preparação do terreno, o plantio e a colheita —, sempre foram praticados pelas mais diversas sociedades e culturas em todos os tempos.

Rituais de Fertilidade

Com o cultivo da terra pelo homem, surgiram os rituais de invocação de fertilidade para ajudar o crescimento das plantas e proporcionar uma boa colheita. Na Grécia, por exemplo, Adônis era considerado o espírito dos cereais. Entre os rituais mais expressivos que o homenageavam estão os jardins de Adônis: na primavera, durante oito dias, as mulheres plantavam em vasos ou cestos sementes de trigo, cevada, alface, funcho e vários tipos de flores.

No Dia de São João na Sardenha, no início do século XX, os jardins de Adônis ainda eram plantados na festa do solstício de verão, que lá tem o nome de festa de São João.

Na Europa, os festejos do solstício de verão foram adaptados à cultura local, de modo que em Portugal foi incluída a festa de Santo Antônio de Lisboa ou de Pádua, em 13 de junho. A tradição cristã completou o ciclo com os festejos de São Pedro e São Paulo, ambos apóstolos da maior importância, homenageados em 29 de junho. Quando os portugueses iniciaram o empreendimento colonial no Brasil, a partir de 1500, as festas de São João eram ainda o centro das comemorações de junho.

Mesmo que no Brasil essa época marcasse o início do inverno, ela coincidia com a realização dos rituais mais importantes para os povos que aqui viviam, referentes à preparação dos novos plantios e às colheitas.

As relações sociais e a fogueira

As relações familiares eram complementadas pela instituição do compadrio, que servia para integrar outras pessoas à família, estreitando assim os laços entre vizinhos e entre patrões e empregados. Até mesmo os escravos podiam ser apadrinhados pelos senhores de terra. Havia duas formas principais de tornar-se compadre e comadre, padrinho e madrinha: uma era, e ainda é, pelo batismo; a outra, por meio da fogueira. Nas festas de São João, os homens, principalmente, formavam duplas de compadres de fogueira: ficavam um de cada lado da fogueira e deveriam pular as brasas dando-se as mãos em sentido cruzado. Era comum recitarem versos como estes:

São João dormiu, 
São Pedro acordô,
vamo sê cumpadre,
que São João mandô.

No nordeste sertanejo, o São João é comemorado nos sítios, nas paróquias, nos arraiais, nas casas e nas cidades. A importância dessa festa pode ser avaliada pelo número de nordestinos e turistas que escolhem essa época do ano para sair de férias e participar dos festejos juninos.

São João, a Purificação pelo Batismo

João Batista nasceu no dia 24 de junho, alguns anos antes de seu primo Jesus Cristo, e morreu em 29 de agosto do ano 31 d.C., na Palestina. Foi degolado por ordem de Herodes Antipas a pedido de sua enteada Salomé, pois a pregação do filho de Santa Isabel e São Zacarias incomodava a moral da época. Antes mesmo de Jesus, João Batista já pregava publicamente às margens do rio Jordão. Ele instituiu, pela prática de purificação através da imersão na água, o batismo, tendo inclusive batizado o próprio Cristo nas águas desse rio.

REZA A LENDA

São João, segundo a tradição, adormece no seu dia, pois se estivesse acordado vendo as fogueiras que são acesas para homenageá-lo não resistiria: desceria à Terra e ela correria o risco de incendiar-se.

Simpatias, Sortes e Adivinhas para São João

Essa é forte:

“Às 6 da tarde da véspera de São João, pôr um cravo num copo com água. Na manhã seguinte, se ele estiver viçoso, é sinal de casamento; se estiver murcho, nada de casamento”.

Comidas e Bebidas Juninas

Como não poderíamos deixar de falar, as comidas juninas são umas das melhores parte dos festejos, não é mesmo?

Então segue uma receitinha de Bolo de São João adaptada, para quem não quer ficar com a roupa

da quadrilha apertada…

comidafestajuninaBolo de São João

Ingredientes
½ tigela de massa de mandioca lavada
7 gemas de ovos
250g adoçante culinário
50 ml de óleo de coco
1/2 xícara de leite de coco

Modo de preparo

Bata as gemas e, quando estiverem bem batidas, acrescente o óleo de coco e em seguida, o leite de coco.

Junte os demais ingredientes e continue a bater até que tudo esteja bem ligado. Leve ao forno regular numa assadeira untada com só um pouquinho de manteiga.

Texto adaptado do trabalho da antropóloga Lúcia Helena Vitalli Rangel e Vivian Catenacci, a pedido da Yoki. O conteúdo dessa pesquisa é agora lançado em forma de livro: Festas Juninas, Festas de São João.

Homenagem:

Dedico esse texto a uma pessoa que amava o São João mais do que qualquer outra pessoa, meu avô João Araújo.