
Dias atrás organizei uma degustação de cervejas com um amigo. As escolhidas eram do estilo Belgian Dark Strong Ale. Esse estilo belga se caracteriza pela cor escura, o teor alcoólico beirando os 10 a 12%, as notas frutadas intensas advindas da fermentação lembrando frutas escuras como passas e ameixas, notas condimentadas também da fermentação, um corpo denso e uma finalização mais adocicada e seca.
O objetivo foi comparar algumas das melhores representantes do estilo. Entre as escolhidas estava a que é considerada a melhor cerveja do mundo nos dois principais rankings cervejeiros do mundo, o Rate Beer e o Beer Advocate. Essa cerveja é a Westvleteren 12. A degustação contou ainda com La Trappe Quadrupel, Rochefort 10, St. Bernardus 12 e Abbaye des Rocs Brune, todas também muito bem avaliadas nos mesmos rankings. Ao final da degustação nos questionamos quais foram as nossas preferidas e nem eu nem meu amigo escolhemos a Westvleteren 12. Ela realmente é uma cerveja deliciosa, muito intensa e complexa, mas perto de outras do mesmo estilo ela não conseguiu se sobressair ao ponto de ser considerada superior.
A Westvleteren 12 é uma cerveja trapista. Esse termo não define um estilo específico, mas uma cerveja feita sob o comando de monges trapistas, uma ordem católica que segue as regras beneditinas. Existem hoje seis mosteiros trapistas fabricando cerveja na Bélgica, um na Holanda e um também na Áustria. Todas as cervejas trapistas costumam ter ótima qualidade e a aura da origem delas somente valoriza ainda mais a história e nossa impressão positiva. A Westvleteren tem uma particularidade.
Enquanto as outras cervejas trapistas são facilmente encontradas, ela somente pode ser comprada se você ligar para o mosteiro na Bélgica, informar a placa do seu carro e marcar um dia para pegar a cerveja que estiver disponível no dia, podendo ser a Westleteren 12 ou ainda a 8 ou a 6, as outras duas receitas feitas pelos monges. Se você conseguir completar a ligação e marcar a coleta, poderá comprar duas caixas com 24 garrafas de 330ml cada. Dizem ser extremamente difícil de conseguir isso e quem consegue comprar acaba por revender no mercado negro com preços bem mais altos. Enquanto na porta do mosteiro ela custa entre dois e três euros, no mercado paralelo ela pode ser encontrada por até 15 euros em lojas na Europa ou até mais de 150 reais aqui no Brasil. Acredito que a exclusividade e a dificuldade de conseguir uma garrafa dessa cerveja é que estimule as pessoas a considerá-la tão boa assim quando conseguem finalmente prová-la.
Quando converso com as pessoas e digo que estudo e aprecio cervejas, quase sempre elas me perguntam qual é a melhor cerveja do mundo e de qual cerveja eu gosto mais. Minhas respostas nunca são objetivas, pois realmente acho que não exista resposta para essas perguntas. Não existe a melhor cerveja do mundo e a minha cerveja preferida é aquela que tem qualidade e consegue suprir a minha necessidade no momento.
Muitas vezes o mercado tenta ditar nossos gostos, mas a sua opinião e o seu gosto pessoal é que são os mais importantes. Prove sempre as cervejas com um olhar crítico e decida você mesmo o que te agrada ou não. As pessoas e os gostos pessoais são diferentes, mas sempre podemos reconhecer quando estamos bebendo uma boa cerveja ou quando ela tem algum problema. Somente a experiência e o tempo podem te dar esse discernimento. Prove sempre uma cerveja diferente e desenvolva seu senso crítico.
Veja imagens das cervejas citadas acima:
Rodrigo Campos Oliveira é editor do blog
Para Que VoCerveja, cervejólogo e consultor para bares, restaurantes, lojas e eventos. Viajou o Brasil e o mundo visitando cervejarias e bares especializados. Adora cozinhar pratos que combinem com suas cervejas preferidas, da entrada à sobremesa. Ministra palestras e harmonizações com cerveja para dividir parte do conhecimento adquirido nos últimos anos.
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