Alex Atala pode até não se sentir confortável com o status de estrela que lhe tem sido atribuído depois de ser eleito o quarto melhor chef do mundo pela revista britânica Restaurant, mas comoção é a palavra que melhor define o que ele causa quando chega onde quer que seja. Foi assim no encerramento do Prazeres da Mesa Ao Vivo, em Fortaleza. Sem a dólmã e cheio de tatuagens nos braços, passaria facilmente por roqueiro famoso dada a quantidade de pessoas que o cercaram no trajeto até a cozinha onde daria palestra e prepararia algumas receitas.
Se o Senac já estava pequeno para o evento até então, naquele momento ficou minúsculo. Atala precisou de seguranças para que conseguisse andar. Incomoda? Aparentemente, sim. Mas não a ponto de deixar o chef arredio ou antipático. Solícito, tirou fotos e distribuiu autógrafos. É cozinheiro ou artista? “Faço o que eu gosto e dou o meu melhor. Reconhecimento é bom, claro, mas não é minha meta”, declarou, em entrevista exclusiva ao Portal Sabores, o cozinheiro, como se intitula.
Todos querem vivenciar qualquer experiência que leve a assinatura de Atala, mas o chef é taxativo quando perguntado se assinaria, por exemplo, o cardápio de uma rede de franquias. “Não toparia. Atingiria um público imensamente maior, ganharia dinheiro, mas não é isso que eu quero. Quero uma sociedade melhor”, ressaltou, sem soar nada piegas.
Atala passa paixão e verdade em tudo o que faz. Quando diz que quer “rever a posição das pessoas em relação à comida”, promover a formação de bons chefs, valorizar a cadeia produtiva estimulando a utilização de produtos locais ou difundir a ideia de que é preciso aprender a usar e preservar os recursos naturais, acredite, é isso que ele faz.
O chef garante que o quarto lugar na lista da Restaurant não o pressiona a galgar mais posições rumo ao topo do pódio. Ele confessa que ficaria muito mais feliz se, mesmo caindo algumas colocações, mais brasileiros passassem a integrar o seleto time. “Temos chefs excelentes e o mundo precisa saber disso”.
Valorização
Para o público de Fortaleza, Atala, que fez mil elogios ao chef José Faustino, apresentou receitas com ingredientes típicos: salada de alga e maçã do coco (uma espécie de esponja que se forma ali dentro, pouco depois da germinação) e uma versão das batatas Anna, ensinada pelo amigo Claude Troisgros, com macaxeira, queijo coalho e manteiga da terra. “A beleza da gastronomia brasileira está na diversidade. Cada região tem ingredientes riquíssimos que as pessoas precisam conhecer para aprender a valorizar. É isso o que eu faço”.