13, julho, 2022

André Linheiro: a aposta por uma bebida que conquistou os sentidos do fortalezense

André Linheiro
André Linheiro, um dos sócios do grupo Brava, na adega da Brava Wine Iguatemi (Foto: Edgard Carvalho)

Quem ama vinho e se engaja com a cultura desta bebida em Fortaleza provavelmente já ouviu por aí o nome “André Linheiro“. Figura conhecidíssima no meio, André é um dos sócios-proprietários do grupo Brava – além de empresário, é um sommelier de mão cheia. Responsável por consultorias e pela elaboração de diversas cartas de vinhos em restaurantes e hotéis não só de Fortaleza, mas em todo o Ceará, Linheiro nos recebeu para uma conversa longa e prazerosa na Brava Wine do Iguatemi Bosque. Durante o encontro, falamos um pouco sobre a sua história com a enogastronomia, sobre o nascimento de uma cultura de apreciação na cidade por essa bebida clássica e milenar e também sobre o início da trajetória profissional deste que é uma das referências entre os amantes de vinho em Fortaleza. Confira.  

André, quão longo é o seu envolvimento com o mundo das bebidas?

Eu trabalho com bebidas há 25 anos. Começamos como uma empresa que vendia bebidas e hoje a gente vende vinhos. O mercado está evoluindo pra isso. No começo, a gente vendia Campari, Dreher, Montilla, junto eu e meu sócio que está ali, o Marcelo (Marcelo Braga). A gente começou nisso, em festas e tudo.

Como você se interessou em se engajar nesse mercado?

Foi por acaso… No começo da minha vida profissional, eu fui supervisor trainee de uma empresa de cosméticos. Durante muito tempo nessa empresa, aprendi basicamente muita coisa sobre distribuição, sobre atacadismo, sobre como funciona isso tudo… Era supervisor trainee, tinha 17, 18 anos. Evoluindo um pouquinho, passei a ser supervisor de uma grande fábrica de colchão. Nessa fábrica, continuei a trabalhar com distribuição… Mas não estava feliz, não tinha me encontrado nesse ambiente de trabalho, era tudo muito longe… Acordava cedo para sair para chegar em Maracanaú, era quase uma hora de viagem, de manhã.

Coincidentemente, uma loja de bebidas que ficava a 30 metros da minha casa abriu vaga para ser gerente de loja. E aí, eu me candidatei. Peguei essa experiência de loja aos 22, 23.

Fachada
Fachada da Brava Wine Iguatemi, localizada no corredor gastronômico (Foto: Edgard Carvalho)

E a marca Brava Wine, quando passou a fazer parte dessa trajetória?

Contando de hoje, a Brava já existe há pelo menos 15 anos. Depois, com a criação, mudamos a nossa logomarca, nossa identidade visual foi evoluindo. Com um tempo, aconteceu, e a gente abriu a Brava Wine, que era uma loja de vinhos apenas, na Padre Antônio Tomás, onde é hoje a nossa loja, e foi evoluindo até ser Wine Bar. E depois disso, estamos com os dois conceitos: a loja com Wine Bar, que é o conceito Aldeota, e aqui é um outro conceito que criamos, pra expandir, que é o conceito de restaurante com loja.

Além do nome Brava, que sempre foi um nome muito conhecido, o nosso negócio é também a distribuição. A gente vende pros principais restaurantes da cidade, eventos, festas particulares, encontros corporativos, fazemos consultorias de restaurantes… A gente começou com isso, é o meu business, é onde eu me especializei, em vender vinho e fazer com que os outros vendam vinho.

Você mencionou que parte da sua inserção no mundo dos vinhos e da enogastronomia tem a ver com as viagens que você já fez…

Minha viagens sempre eram viagens gastronômicas, sou louco por gastronomia, fascinado por gastronomia de alto padrão… Por comida boa. E comida boa não necessariamente precisa ser sofisticada. Comida boa. É importante a gente falar nisso porque tem restaurante que é bom e não é sofisticado, e restaurante que é sofisticado e não é bom. Eu gosto de comida. Fui à França, que é berço da gastronomia, a Portugal, aos Estados Unidos… A minha primeira viagem gastronômica foi na lua de mel, pra Argentina, Mendoza.

André Linheiro
“A gente vende pros principais restaurantes da cidade, eventos, festas particulares, encontros corporativos, fazemos consultorias de restaurantes… A gente começou com isso, é o meu business, é onde eu me especializei, em vender vinho e fazer com que os outros vendam vinho” (Foto: Edgard Carvalho)

Como se deu a sua formação nesse universo do vinho?

Sou especialista e sommelier de vinho formado, tenho formação em sommelier pela ABS São Paulo, o primeiro curso deles fora de São Paulo… Eu fiz o curso aqui. Me formei em 2015. Sou especialista em fazer cartas de vinhos pros principais restaurantes da cidade: Santa Grelha, Carbone, Ryori, La Pasta Gialla, Soho Restaurante, assino a carta do Ita, do Illa Mare… Hoteis como Zorah e Gran Marquise tiveram minha consultoria. É uma infinidade de restaurantes de médio e alto padrão, como também pequenos… Assinamos também a carta do Gheller, do Butcher’s… Os restaurantes confiam em mim. A carta do Beach Park também foi assinada por mim, bem como também temos um espaço Brava Wine por lá, o Lounge Brava Wine.

Como se dá o processo de criação de uma carta de vinhos assim?

Se eu vou fazer a carta de um restaurante tal, gosto de conhecer qual é o perfil, perfil de cliente, perfil de gastronomia, o que ele quer atender, como vai funcionar, espaço, se cabe uma carta grande, pequena, média, complexa… São várias variantes. E os restaurantes confiam em mim. Alguns dizem “eu não preciso de sommelier, eu tenho o André Linheiro”. Isso é o que eu faço, e eu adoro o que eu faço. Eventos corporativos, casamentos, inaugurações de loja… Todos que me procuram, ou sou eu, ou equipe já treinada, que já tem o expertise para fazer. 

Aliás, vale ressaltar que a gente não vende só vinho, vendemos tudo: whisky, vodka… A gente sugere as quantidades em função da quantidade de clientes: um evento pela manhã não é o mesmo consumo de um evento à noite, um sunset tem um consumo maior, pede um produto rosé, por exemplo. À noite já é um outro, então a gente tem tudo isso que diferencia.

Além da iniciação na cultura do vinho, como é que começou a sua relação com a comida e o interesse por bons restaurantes?

Eu sou fascinado com vinho e comida desde pequeno… Desde pequeno eu gosto de comer bem. Depois vem a adolescência, você começa a beber, você bebe e vai acordando… Ninguém gostava de vinho antigamente. Minha esposa, eu costumava levá-la para restaurante para tomarmos lambrusco. Na época, lambrusco era o máximo. Isso há mais de 25 anos. Ela participou dessa minha relação com a enogastronomia desde o começo. Eu tenho esse negócio por bebida, por gastronomia, por comer bem, por vinho, há muito tempo. São casamentos, né, pra você ter um bom prato, você tem que ter um bom vinho; e um bom vinho merece um bom prato. A experiência é o que vale. Na gastronomia, o que a gente vende não é só sabor, é a experiência, a experiência é mais do que sabor. Uma cadeira confortável, o visual do prato, a companhia. A experiência. O restaurante não vende comida, vende experiência. Quem entende isso, o restaurante de médio e alto padrão, entende que você não está vendendo a comida por si só, você está vendendo uma experiência.André Linheiro e Victor Bezerra

André e Victor
André Linheiro e o chef Victor Bezerra discutem renovação de cardápio na Brava Wine Iguatemi (Foto: Edgard Carvalho)

O empresariado em Fortaleza tem assimilado esta mentalidade?

Nesse tempo de evolução do segmento on trade, é muito claro notar que os empresários evoluíram muito, e hoje nós temos grandes empresários com essa mentalidade, que é de vender experiências. Hoje, as pessoas pensam em experiência. O sabor, temperatura do prato, temperatura do ambiente, cadeira confortável, tudo isso faz parte de uma experiência… O vinho que você vai beber junto com a comida. Uma coisa é você comer uma boa carne com Coca Cola, tomar um refrigerante… Outra coisa é tomar um vinho, um bom Malbec, um Bordeaux, um Tempranillo, algum vinho que vá fazer a harmonização com esse prato.

E voltando a falar do André Linheiro… Tem alguém que você destaque como uma notável influência inicial para desenvolver esse paladar destacado pra vinhos?

Meu pai, Domingos Linheiro, me influenciou bastante. Ele gosta muito de vinho.

De que forma o paladar do fortalezense tem se modificado com relação a essa bebida?

Houve mais de 500% de crescimento nas vendas de vinhos na pandemia. O que posso destacar é que as pessoas estão passando a beber vinhos melhores. 

E o André: o que ele gosta de beber, afinal?

Gosto de tudo (risos). Pra mim, a escolha tem a ver com a harmonização perfeita: tem dia que estou pra branco, tem dia que estou pra tinto… Tem tarde que estou pra rosé. Eu gosto muito de carne… Carne com Bordeaux, carne com Malbec, carne com Cabernet… E eu sou louco por bacalhau. Bacalhau com um bom vinho português, um vinho do Porto, é uma excelente harmonização. O Brasil, por exemplo, é muito bom com espumante.